sábado, 31 de janeiro de 2015

Eram 9 da noite!

Eram 9 da noite, e, "ao fim de um dia de trabalho” (como tão bem o português o diz) um jantar com amigos de longa data levara-me a percorrer uma rua habitacional de Lisboa àquelas horas da noite. Ia a pensar na morte da bezerra , cabeça vazia, e passo apressado para não chegar demasiado atrasada (para não fugir à  regra do bom português, já passava da hora).
O vazio mental que me começava a perturbar foi então interrompido por uma conversa entre uma mãe e um filho que caminhavam de mão dada mostrando grande cumplicidade e conforto perante a presença um do outro. A mãe explicava ao filho que tinha que estudar, isto se pretendia ascender a alguém digno de ser intitulado com um daqueles nomes a que chamam às pessoas de grande importância e/ou com uma profissão merecedora de respeito. Era uma mãe dedicada, o filho era o seu projeto de vida e a motivação diária dos seus trabalhos, indispensáveis para suportar os estudos do menino.
Corre por aí que uma criança nunca mente, que são as únicas verdadeiras e sinceras. Talvez nunca um adulto tenha dito verdade maior. A ingenuidade pura e sincera daquela criança levou-a a que, com o mesmo carinho que a mãe falava do filho, fala-se de como um dia iria ser o maior e mais bem sucedido mecânico do mundo! Porque a verdade é que na cabeça de uma criança as palavras valem por si sem que tenha a necessidade de as hierarquizar ou de as associar a um astuto social superior.
Hierarquizamos pessoas, e não palavras, valorizamos estatutos e não os humanos, ambicionamos falsos sucessos e não a felicidade.
A mãe não escondeu a sua indignação perante a resposta do filho e procurou explicar que ela trabalhava para que ele pudesse ser alguém maior do que a sua pequena ambição de ser o melhor mecânico do mundo. Ironias à parte (ou não)  talvez a mãe quisesse que ele fosse o melhor do universo e não do mundo.
Como é fácil cair tentação de valorizar a palavra acima do Homem. Agarramo-nos às palavras e aos rótulos que nelas foram colocadas, sabe-se lá por quem, e participamos na bola de neve que se multiplica a cada geração educada às vozes das falsas ambições.
Nunca ninguém soube explicar porque é que um deputado, cujos exemplos que conhecemos abundam em falta de valores morais, devem ser elevados e valorizados acima do bombeiro que coloca no limite a sua vida para que a dos outros ou a Mãe Natureza possa afastar-se desse limiar que constitui um ameaça constante, ou o médico acima do enfermeiro, o advogado acima do artista. Vivemos numa sociedade onde todos nós ocupamos um lugar correspondente a um fragmento necessário para o próximo.  
E por falar me arte sou obrigada a partilhar um desabafo sincero sobre o castigo que cada um nós carrega aos ombros por assumir a sua identidade enquanto ser livre aberto ao mundo que é, sem a menor das dúvidas a maior das criações artísticas. Mas isso é malha para outra conversa, quiçá outro post.

“-Ouça meu filho, eu trabalho para você puder estudar, tem que estudar muito para ter sucesso!
-Sim mamãe, eu vou ser ser o melhor mecânico de automóveis do mundo!

-Credo meu filho, que horror, você não quer alguém na vida? Um deputado, um advogado ou um médico?”

sexta-feira, 7 de março de 2014

The voice. Elas discutem alto.


"And if I never saw you again could I keep all of this inside?"Eu sento-me. Penso, e invadida por todos pensamentos que me atormentam e me afogam num mar de estúpidas indecisões revejo-me numa realidade que não mais posso manter. O tempo passou e tão longe que ficou o tempo da escrita, tão longe que ficou o tempo de ter tempo para aproveitar o tempo que o tempo me dava. O tempo passou e nós ficamos parados, agarrados, amordaçados à constante incerteza. Precisamos de mais tempo do que o tempo que temos, no pior dos casos, precisamos da eternidade (e o drama de tudo, é que não a temos). "I'm a shiver"Escrevo, sem saber o que escrevo mas certa sobre o que escrevo. Mais uma vez perco-me em pensamentos interiores que tão tótós soam quando escritos ou ditos. Atormenta-me saber que escreve sobre o tempo, o nosso tempo, o tempo que nos falta e que vai ser o principal causador do fim. Não o fim do mundo, não o fim de nós. O fim de tudo o que ficou às margens do começo.Caio na realidade e percebo que todos os rodeios acabam em lacunas que um de nós insiste em deixar em branco. Faltam-me palavras para a confissão que escrever é o desabafo de quem já não mais sabe o que dizer ou fazer. Pudesse eu agitar a bola de neve e fazer todos os flocos caírem sobre nós sem dó nem piedade; pudesse eu viver a realidade d"outro lado do mundo" e tudo fugiria pelo meio dos dedos àquilo que está no meu controlo. Fervo ao saber que me conforto com a situação de saber o quão inconstante é uma realidade onde o melhor é também pior das soluções. "sou escravo das minhas intuições", escravo do que sinto, escravo de tudo aquilo que não sei explicar. Escrava da realidade imaginada que criámos para conforto e refúgio dos nossos sonhos. Ah, pudesse eu acabar com esta merda de vicio de escrever sempre que o túnel está no fim, pudesse eu acabar com a merda da intuição e a merda dos sentimentos e talvez nunca chegasse a perceber a textura do poço. Faltasse a mim a consciência de viver esta realidade e nem o pensamento perceberia que era no poço que o corpo jazia.Fico por aqui, a lamentar a necessidade de escrever sobre o nosso tempo, a lamentar a importância esquecida do presente que deseja ser passado. Fico por aqui, a pensar na lacuna global que se tornou cada palavra que tão mal representou o que lhe era incumbido. Fico por aqui... digo eu. Fico por aqui tentando matar a voz que dá ordem de partida. Fico por aqui, fingindo acreditar que o que digo é verdade. Por aqui... calando a voz que me mantêm escrevendo tentando acreditar que tudo vai mudar.O vício aperta, pede mais ou pouco. A voz que contradiz a falsidade das afirmações exige mais. Aproveita a situação e fala tudo o que amanhã vai esquecer. Escreve... escreve para amanhã se lembrar que o que escreveu neste momento de lucidez (ou não) fica registado para mais tarde ler que guarda baixa dá direito a KO.Mas do outro lado alguém diz para embarcar, fechar os olhos e voar até ao "outro lado do mundo". Fica complicado distinguir os dois, o momento de lucidez está a perder-se e as duas fundem-se num tormento de pensamentos em que de tão incompreensíveis ficam fusão de qualquer coisa que nem no mais ciente dos estados é legível. Mantém firme.Ah merda, já não sei porque quem escrevo. Por quem descrevo tudo isto que não desconfio  sequer o que seja! Prós e contras. yellow, yellow, yellow, that's you?Sobre o que é que falava mesmo?





sábado, 7 de setembro de 2013

ponto final só depois da morte

Mantenho parada, estática perante esta corrente que me atravessa sem que me aperceba que está passando. Agarro-me à ilusão de ter o que não posso, de avançar no caminho que alucinada crio para satisfação própria. Mergulhei na incerteza de não saber o que me prende a esta realidade estática e monótona. Esta realidade, este mundo, que me envolve em diluvias conversas. Mas o tempo passou... e eu que nem dei por ele passar. Questiono-me onde estava enquanto os dias passavam. É hora de mudar de caminho e eu, mergulhada neste paralelismo de realidades, nem próxima percebi que estava. Rejeito a verdade de estar demasiado afundada em imaginações para ver que o tempo passou e como tudo mudou (ou não.) Desperta a necessidade de não mais querer ter que saber o que é saudade, saudade de ti, saudade do tempo em que não existia saudade.
Neste pequeno momento de lucidez percebo que, olhando para trás, vejo lacunas no caminho que percorri até ti. Falta-me a consciência de como cheguei, se é que cheguei. Perdi a noção do tempo e agora que reconheço a perda quero voltar, voltar para que todo este caminho seja relembrado e vivido sem que nada passe em falso. Mas insisto e continuo no replay... eu vou lá chegar. Passo a passo, concentra-te!
O tempo passou, e agora que passou penso nele, penso e questiono as certas incertezas de não saber se tudo acaba como acabam todos os contos, com um mero e misero ponto final. Fujo aos erros, evito as desilusões, procuro refugio, nego o medo, guarda levantada, cabeça erguida, coração resguardado, mente concentrada, objectivo focado, caminho traçado. Talvez Saramago tivesse razão, ponto final só depois da morte

quinta-feira, 25 de julho de 2013

3- sombras, frases, dias e horas.

A noite está fria, atrás de mim restam 3 sombras que vejo com distinção na penumbra da luz que me rodeia. Emergem as palavras, que perdidas ficam na busca pelo ritmo que, nesta noite fria, parece ter afundado.
Emerge a essência desconhecida deste flutuar de perguntas às respostas que ficaram na mão daquele que sem receio deixou a corrente correr sem margem para lacunas.

criado pelo hábito, o hábito de viver.

[Vamos perdendo racionalidade, a lógica dispersa-se e o real ganha dimensões medíocres. Entramos num jogo de comodismo, na luta pela permanência do habitualmente natural, porque fora disso só abismo.]

De mão dada com a rotina ficou perdido no cómodo passado que criou sob as fracas bases que projectou  para sustentar a vida fictícia que idealizou.
Habituado a cumprir o hábito por hábito o ser criou em si um mundo de comodismos. O seu mundo é a sua zona de conforto limitada pelos passos que ficaram por dar. O medo falará sempre mais alto para quem vive rodeado do que mais precisa, e para quem o hábito vence a vontade de vencer. Os facilitismos que os levam a construir na vida cada alicerce da sua rotina serão para sempre o sabor do desgaste humano de não saber "beber com moderação". Mas o hábito tornou-se vício, e viver passou a ser um verbo condicionado.
Habituados a mediocridade de conhecer uma única vida vivem conformados com a linha que os acompanha dia após dia na caminhada reta e perfeita que desenham. Entram em loop ciclico e sem que o possam ver entraram na arena do comodismo em que viver virou um jogo onde só são permitidos os jogadores que cumprirem as regras estabelecidas. Viver ganhou condições e a razão foi substituída pela impulsividade de não saber o ciclo em que se caiu.




terça-feira, 14 de maio de 2013

Obstáculos, eternas aprendizagens!


Obstáculos, eternas aprendizagens!
Percebi que sou, de um, a coragem que faltou para ser, de outro, a vontade escondida de querer ser.
Vivo guardiã de uma individualidade pessoal que aprendi a valorizar, acima de todas as contrariedades, de todos os obstáculos e advertências. Vivo a luta de não perder aquilo que trago cá dentro, vivo o orgulho de ser alma independente, original.
A água vai correndo e em melancólico movimento visiono a eterna aprendizagem deste ciclo vicio a que chamamos “crescer”.  A vida encarrega-se de me mostrar o valor intrínseco do ser humano enquanto individuo singular e único. Porque somos indivíduos pessoais onde a alma e o corpo formam um conjunto perfeito impossível de igualar, somos seres possuidores de uma originalidade única, de uma personalidade ímpar, de uma ambição feroz capaz de atingir qualquer sonho querido (porque esses, esses existem para serem realizados). Somos impressões digitais de uma sociedade que ninguém pode alterar.
Contrariedades, chamemos-lhe assim, que tão arduamente trabalham para mostrar o valor do mundo. Contrariedades persistentes que insistem em puxarem para trás, desconhecendo elas a força que cresce na luta para seguir caminho.
Contrariedades que de tanto reprimirem ensinaram o valor da individualidade e o quão merecedor é a luta pela singularidade sem resignação da verdade que se é.
Pudesse eu um dia agradecer às contrariedades que me elevam à certeza de saber que sonho e identidade pessoal são o ouro e a dignidade da junção da alma com o corpo, e seria ironia dizer que a minha força veio do apoio que ficou por dar. 

segunda-feira, 22 de abril de 2013

e sem motivo aparente, ficou agreste.

Deixei, sem motivo aparente, palavras soltas no olhar de quem não soube falar dessa ânsia desmedida de tornar palpável esse teu brilho.
Sem motivo aparente, me consumo em linhas condutoras de um pensamento que me segue sem rumo a uma realidade que não mais posso conhecer. Vivo e sigo no caminho agreste de não poder saber que me mantenho estática. Eminentemente perigoso esse teu ar, esse teu poder que me consome e me leva à deriva. Perco o controlo e sem saber afundei na realidade em que o infinito é o amanhecer do dia, levanto-me e sinto-me perdida, sei que não te posso ter, mas nem por isso te quero menos.
Não mais conheço o rosto da racionalidade, não mais me levo ao sabor da lucidez. Quero sair desta corrente que me arrasta por marés que de tão encantadoras serem me tiraram a consciência da minha realidade verdadeira. Soubesse eu a origem desta força motriz e há muito teria deixado de caminhar (ou talvez não). Não sei até vamos, quero parar, sair do caminho, deixar que sigas...
perdi o ritmo, sinto-me inconsciente, com muito pouco de lucidez, (até lunática talvez) por não saber como te ver, por não saber se o que sinto é és tu ao meu lado ou a mera imagem que criei de ti que, sem motivo aparente, me acompanha nesta viagem de caminhos agrestes.