Eram 9 da noite, e, "ao fim de um dia de trabalho” (como tão bem o português o diz) um jantar com amigos de longa data levara-me a percorrer uma rua habitacional de Lisboa àquelas horas da noite. Ia a pensar na morte da bezerra , cabeça vazia, e passo apressado para não chegar demasiado atrasada (para não fugir à regra do bom português, já passava da hora).
O vazio mental que me começava a perturbar foi então interrompido por uma conversa entre uma mãe e um filho que caminhavam de mão dada mostrando grande cumplicidade e conforto perante a presença um do outro. A mãe explicava ao filho que tinha que estudar, isto se pretendia ascender a alguém digno de ser intitulado com um daqueles nomes a que chamam às pessoas de grande importância e/ou com uma profissão merecedora de respeito. Era uma mãe dedicada, o filho era o seu projeto de vida e a motivação diária dos seus trabalhos, indispensáveis para suportar os estudos do menino.
Corre por aí que uma criança nunca mente, que são as únicas verdadeiras e sinceras. Talvez nunca um adulto tenha dito verdade maior. A ingenuidade pura e sincera daquela criança levou-a a que, com o mesmo carinho que a mãe falava do filho, fala-se de como um dia iria ser o maior e mais bem sucedido mecânico do mundo! Porque a verdade é que na cabeça de uma criança as palavras valem por si sem que tenha a necessidade de as hierarquizar ou de as associar a um astuto social superior.
Hierarquizamos pessoas, e não palavras, valorizamos estatutos e não os humanos, ambicionamos falsos sucessos e não a felicidade.
A mãe não escondeu a sua indignação perante a resposta do filho e procurou explicar que ela trabalhava para que ele pudesse ser alguém maior do que a sua pequena ambição de ser o melhor mecânico do mundo. Ironias à parte (ou não) talvez a mãe quisesse que ele fosse o melhor do universo e não do mundo.
Como é fácil cair tentação de valorizar a palavra acima do Homem. Agarramo-nos às palavras e aos rótulos que nelas foram colocadas, sabe-se lá por quem, e participamos na bola de neve que se multiplica a cada geração educada às vozes das falsas ambições.
Nunca ninguém soube explicar porque é que um deputado, cujos exemplos que conhecemos abundam em falta de valores morais, devem ser elevados e valorizados acima do bombeiro que coloca no limite a sua vida para que a dos outros ou a Mãe Natureza possa afastar-se desse limiar que constitui um ameaça constante, ou o médico acima do enfermeiro, o advogado acima do artista. Vivemos numa sociedade onde todos nós ocupamos um lugar correspondente a um fragmento necessário para o próximo.
E por falar me arte sou obrigada a partilhar um desabafo sincero sobre o castigo que cada um nós carrega aos ombros por assumir a sua identidade enquanto ser livre aberto ao mundo que é, sem a menor das dúvidas a maior das criações artísticas. Mas isso é malha para outra conversa, quiçá outro post.
“-Ouça meu filho, eu trabalho para você puder estudar, tem que estudar muito para ter sucesso!
-Sim mamãe, eu vou ser ser o melhor mecânico de automóveis do mundo!
-Credo meu filho, que horror, você não quer alguém na vida? Um deputado, um advogado ou um médico?”
O vazio mental que me começava a perturbar foi então interrompido por uma conversa entre uma mãe e um filho que caminhavam de mão dada mostrando grande cumplicidade e conforto perante a presença um do outro. A mãe explicava ao filho que tinha que estudar, isto se pretendia ascender a alguém digno de ser intitulado com um daqueles nomes a que chamam às pessoas de grande importância e/ou com uma profissão merecedora de respeito. Era uma mãe dedicada, o filho era o seu projeto de vida e a motivação diária dos seus trabalhos, indispensáveis para suportar os estudos do menino.
Corre por aí que uma criança nunca mente, que são as únicas verdadeiras e sinceras. Talvez nunca um adulto tenha dito verdade maior. A ingenuidade pura e sincera daquela criança levou-a a que, com o mesmo carinho que a mãe falava do filho, fala-se de como um dia iria ser o maior e mais bem sucedido mecânico do mundo! Porque a verdade é que na cabeça de uma criança as palavras valem por si sem que tenha a necessidade de as hierarquizar ou de as associar a um astuto social superior.
Hierarquizamos pessoas, e não palavras, valorizamos estatutos e não os humanos, ambicionamos falsos sucessos e não a felicidade.
A mãe não escondeu a sua indignação perante a resposta do filho e procurou explicar que ela trabalhava para que ele pudesse ser alguém maior do que a sua pequena ambição de ser o melhor mecânico do mundo. Ironias à parte (ou não) talvez a mãe quisesse que ele fosse o melhor do universo e não do mundo.
Como é fácil cair tentação de valorizar a palavra acima do Homem. Agarramo-nos às palavras e aos rótulos que nelas foram colocadas, sabe-se lá por quem, e participamos na bola de neve que se multiplica a cada geração educada às vozes das falsas ambições.
Nunca ninguém soube explicar porque é que um deputado, cujos exemplos que conhecemos abundam em falta de valores morais, devem ser elevados e valorizados acima do bombeiro que coloca no limite a sua vida para que a dos outros ou a Mãe Natureza possa afastar-se desse limiar que constitui um ameaça constante, ou o médico acima do enfermeiro, o advogado acima do artista. Vivemos numa sociedade onde todos nós ocupamos um lugar correspondente a um fragmento necessário para o próximo.
E por falar me arte sou obrigada a partilhar um desabafo sincero sobre o castigo que cada um nós carrega aos ombros por assumir a sua identidade enquanto ser livre aberto ao mundo que é, sem a menor das dúvidas a maior das criações artísticas. Mas isso é malha para outra conversa, quiçá outro post.
“-Ouça meu filho, eu trabalho para você puder estudar, tem que estudar muito para ter sucesso!
-Sim mamãe, eu vou ser ser o melhor mecânico de automóveis do mundo!
-Credo meu filho, que horror, você não quer alguém na vida? Um deputado, um advogado ou um médico?”